Adaptação no ambiente empresarial é capacidade de sobrevivência | Gestão e evolução conscientes (Parte 2)
(Por Alexandre Inserra e Gustavo Cerbasi)
A noção de adaptação empresarial é análoga à ideia evolutiva das espécies de Charles Darwin: sobrevivem no longo prazo as organizações com maiores capacidades de adaptação ao ambiente econômico onde competem. A atividade de consultoria nos oferece o privilégio de vivenciarmos incríveis analogias entre o Darwinismo Evolucionista e o Empresarial. Sensoriar o ambiente em seu entorno para se adaptar proativamente é condição básica de perpetuação também no ambiente empresarial. Organizações que se perpetuam entendem seus próprios mecanismos evolutivos, as transformações em curso nos setores onde atuam e praticam readequações permanentes de suas competências e de seus mecanismos de agregação de valor. A gestão consciente da evolução corporativa faz parte do “kit básico” de sobrevivência empresarial.
Quais são as analogias de cunho prático, entre a Teoria Evolucionista de Charles Darwin e o conceito moderno de Darwinismo Empresarial? E quais são seus antagonismos?
Sobrevivem no longo prazo as Organizações com maiores capacidades de adaptação ao ambiente econômico em que competem. Para demonstrar essa validade com exemplos simples, analisemos inicialmente os casos globalmente emblemáticos protagonizados por KODAK, IBM e Volkswagen.
A primeira não conseguiu, no tempo disponível, perceber as mudanças e se adaptar na velocidade em que a transformação de seu mercado aconteceu. A segunda se adaptou proativamente algumas vezes nas últimas 7 décadas, se redefinindo várias vezes. A última foi publicamente forçada a abandonar postura de resistência e o status quo “von damals” para buscar “recuperar o tempo e os recursos perdidos”. As transformações motivadas pela urgência em garantir a sobrevivência norteiam a redefinição completa do posicionamento, da estratégia e dos desenvolvimentos em curso atualmente protagonizados pela Volkswagen.
“Considerar injusto que alguém tenha roubado seu queijo não lhe trará o queijo de volta.”
As espécies precisam de milhões de anos de evolução para que se evidenciem adaptações que, segundo Charles Darwin, acontecem a partir de mutações genéticas aleatórias, cuja evolução depende da capacidade de adaptação ao meio onde se encontram. Organizações Empresariais, no entanto, são capazes de adicionarem compreensão a tais mecanismos de sobrevivência e crescimento, e de agirem proativa e coordenadamente para tornar adaptações pelo menos tão ágeis e assertivas quanto é o ritmo das respectivas transformações setoriais. A adaptação aos ambientes de negócios deve ser consciente, planejada, mensurada, retroalimentada e, portanto, permanente.
Em outras palavras, as mudanças genéticas acontecem aleatoriamente, mas a definição daqueles que se perpetuarão depende das capacidades de adaptação de cada um, inclusive relativamente.
No ambiente empresarial, mudanças aleatórias tendem a ser confundidas com cases de inovação. É há um risco enorme nessa confusão. Inovação é fazer diferente com um propósito claro: fazer melhor. De forma bem ampla: mais valor, menos custos, ou ambos combinados. Acasos de gestão, tentativas de perpetuação de cash-cows, resistências às inovações de produtos e de processos são tipicamente escondidas atrás da inércia, da busca pela acomodação.
Claramente muitas inovações foram iniciadas por acaso, ao se observarem fenômenos de forma inédita. No entanto, o ato de tornar a nova percepção, a nova ideia, ou a nova observação de novas correlações algo de valor para a organização depende necessariamente de análises factuais de causas e consequências, prós e contras, da matriz de riscos associada e das alternativas para mitigá-los, a fim de que a respectiva implementação seja assertiva, planejada e livre de transtornos.
Capacidades claras de definição e implementação de estratégia evolutiva própria são claramente detectadas no coletivo humano intrínseco às Organizações Empresariais, requerendo para isso liderança adequada e disponibilidade de recursos.
São evidentes as capacidades de Organizações Empresariais oriundas de diferentes geografias em gerar e implementar sistematicamente ideias inovadoras, o que tem conduzido à disruptura em diferentes setores. Basta verificar o que a Tesla tem “aprontado” para as montadoras europeias, citando um setor econômico emblemático e que serve de inspiração a tantos outros.
Transformações são atos contínuos. Cabe aos gestores acompanhá-las e promovê-las. Para isso, devem contar com análises baseadas em dados, em fatos e em suas extrapolações, detectando-se rapidamente tendências, com a motivação de influenciá-las. Métodos científicos de formulação e verificação de hipóteses devem fazer parte do cotidiano da Gestão.
Ou seja, se como espécie estávamos sujeitos ao acaso das mutações genéticas para ganharmos características que refletissem, em longo prazo, possibilidades de melhor adaptação (ao menos até chegarem as novidades em Engenharia Genética), em termos empresariais, o mecanismo se diferencia, principalmente quanto à sua proatividade e velocidade observadas: aqui, sim, há possibilidades reais de gestão do curso das mudanças evolutivas. E à medida em que essas possibilidades se transformam em capacidade de realização, em competências organizacionais, derivam-se vantagens competitivas inestimáveis.
Proativamente, fazendo o melhor uso possível de diferentes tipos de ferramentas e powered by big data, gestores de todos os setores têm demonstrado grande poder sensorial (perceptivo) e de capacidade de promoção de grandes saltos de adaptação coordenada, consciente, das respectivas estruturas organizacionais, aumentando suas chances de perpetuação.
O poder de competição está sendo elevado e testado no seu limite com o uso de correlações e identificações de causa e efeito que se tornaram possíveis, graças à enorme capacidade de processamento e dos algoritmos de inteligência artificial.
A reflexão vale até mesmo em relação às variáveis que a organização não influencia diretamente: recomenda-se a resolução de um problema com os melhores entendimentos sobre seu enunciado. A pior das práticas (e mais comum) é ignorar tanto a necessidade como a capacidade de adaptação e supor que força ou tamanho vencerão qualquer batalha. Não há espaços para pretextos quando há ausência de proatividade por adaptações. E se forem lentas demais, o resultado é o mesmo.
Não cabe ao comandante da aeronave cruzando o Atlântico decidir sobre a meteorologia, mas é seu dever definir e implementar mudanças de rota para evitar tempestades. E mantendo a analogia: já se tornou possível e necessária a modificação da própria aeronave durante as travessias, como muitos comandantes empresariais têm demonstrado. A Gestão Consciente da evolução das organizações faz parte do “kit básico” de sobrevivência empresarial.
Os coautores agradecem a sua atenção. Este é o artigo #4/21 e foi escrito originalmente em lingua portuguesa, e não há, por enquanto, versões em outros idiomas. Publicado de forma inédita em 15.03.2021. Por favor, deixe seu comentário abaixo. Se preferir, envie sua mensagem via e-mail diretamente para os coautores. Fique à vontade para compartilhar este artigo copiando este link. Todos os direitos reservados aos coautores e à PRIMORIUM.
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